Flexibilidade total (2004)

Os empregados atípicos tornam-se típicos

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Franz Schandl

“A flexibilidade total está na agenda”. Esta proclamação do Standard de Viena também é proclamada em outros cantos. “A flexibilidade total é o que se espera do empregado, dos horários e locais de trabalho à forma de emprego”. No contrato de trabalho tradicional da sociedade industrial, o empregado oferecia a sua força de trabalho ao negócio e este lhe pagava um ganho seguro, desfazendo-o do risco de comercializar os resultados de sua produção. Agora, isto acabou. O rompimento social com o contrato coletivo diz o seguinte: “Os contratos de trabalho são cada vez mais individualizados, sob a forma de contratos de trabalho ou de contratos livres de emprego, fortemente atrelados à vazão conseguida pelos indivíduos. O trabalho já não é um emprego com ganho garantido, pré-determinado no espaço ou no tempo.

Lugar, horário e possibilidades de vida são coisas que não podem mais serem deixados ao encargo das próprias pessoas. Auto-determinação significa determinação pelo mercado. O que fora outrora denominado determinação exterior ou objetificação deve aparecer agora como decisão de cada um. Corresponder ao mercado é algo que deve ser sentido como a nossa mais elementar necessidade. Os que ganham o suficiente podem comprar uma consciência limpa. Além disso, podem escolher entre diferentes produtos no mercado ou votar em partidos com diferentes nomes, na política. O como, o onde, o quando e o que da produção não diz respeito às pessoas em geral, de modo algum. A democracia torna-se submissão absoluta às leis da valorização.

A flexibilidade não tem qualquer relação com a soberania individual. Pelo contrário, ela exige que cada um esteja completamente voltado para as demandas externas. A flexibilidade de cada pessoa nada mais é do que o ditado do mercado. O que quer que seja oferecido deve ser aceito. Aquele que se recusar a isto se afastará do trabalho e da tradicional rede do estado social. É preciso estar pronto a apresentar-se.

Se o empregado típico adquire garantias ao vender a sua força de trabalho, o mesmo não se pode dizer do trabalhador atípico na era da insegurança. A abolição da forma rígida não aumenta a soberania dos indivíduos, mas redefine a sua dependência. Já não há mais solidariedade, mas uma negligência incapaz de prometer qualquer segurança. A flexibilidade a que estão expostos os negócios exige a flexibilidade dos que neles trabalham. O empregado atípico torna-se típico e o típico torna-se atípico.

Nada nos é dado; temos de nos virar por conte própria. Fazer de si mesmo um autômato é a meta. O ideal do trabalhador é a máquina. O funcionamento incessante, segundo um ritmo de ferro, é enfatizado. A máquina se manifesta como uma entidade cuja perfeição é o exemplo do empregado. As pessoas têm de se despojar de todos os seus traços ante a funcionalidade das suas máquinas, ao tentar imitá-las.

“Work to the rhytm
Live to the rythm
Love to the rythm
Slave to the rythm”
Conforme cantava Grace Jones em 1985.